Grupo busca estender pagamento de dívidas para 20 anos com juros na casa dos 3%
Mais de 600 produtores rurais de Mato Grosso do Sul se reuniram, na última quinta-feira (26), no Sindicato Rural de Maracaju para discutir o cenário preocupante que o agronegócio enfrenta. O encontro teve como principal foco o endividamento rural, um problema agravado pela alta dos custos de produção, preços baixos das commodities e condições climáticas adversas.
Marco Antônio Marcondes, presidente do Sindicato Rural de Maracaju, ressaltou a importância do movimento como forma de conscientizar a sociedade e estimular outras regiões do Estado a se mobilizarem.
“Tivemos duas safras consecutivas de frustração, com custos elevados, juros altos nos financiamentos e queda no preço das commodities. Isso impacta diretamente o comércio e a economia das cidades e do Estado. O levantamento que fizemos mostra que a região Centro-Sul do Mato Grosso do Sul é a mais afetada, com uma radiografia clara da grave situação enfrentada pelos produtores rurais. Estamos à beira de um colapso agrícola, e precisamos de soluções urgentes para evitar uma bolha financeira ainda maior”, alertou Marcondes.
Valdenir Portela, produtor rural e um dos líderes do movimento, destacou o impacto devastador das dívidas sobre os agricultores.
“Com juros de 14% a 16%, o produtor não paga conta. Eu sou produtor e sei disso. Estamos há três anos tomando prejuízo com soja e milho. Seis safras consecutivas de milho e milho safrinha”, afirmou Portela, enfatizando a necessidade urgente de medidas para dar fôlego ao setor.
A reunião em Maracaju foi um desdobramento de um encontro anterior com o governador Eduardo Riedel e o deputado estadual Paulo Corrêa (PSDB), que desde o início têm apoiado a causa dos produtores. Naquele encontro, os produtores rurais apresentaram suas preocupações ao Governo do Estado, que se comprometeu a realizar um estudo detalhado sobre a situação e a levar a discussão ao Governo Federal.
Segundo Portela, uma nova reunião será realizada com a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, após as eleições municipais, para avançar na proposta de alongamento das dívidas. A expectativa é que essa negociação inclua a possibilidade de estender o prazo de pagamento das dívidas para 20 anos, com juros mais baixos, na casa dos 3%, como em programas de securitização anteriores.
“Ela [Simone Tebet] deu sinal verde e pediu 30 dias para mobilizar a classe produtora. Nesse tempo, o Governo também vai elaborar o estudo para que tenhamos algo concreto, com robustez na documentação”, explicou Portela.
Além da mobilização dos produtores, a estratégia inclui o apoio de instituições-chave do setor, como Aprosoja, Famasul, Fiems, Assembleia Legislativa, através do deputado Paulo Corrêa, e o próprio Governo do Estado. Essas entidades estão se unindo em um esforço conjunto para levar uma proposta unificada ao Governo Federal, para aliviar a pressão financeira sobre os produtores rurais de Mato Grosso do Sul.
“Hoje o produtor deve ao banco, à revenda, à cooperativa. Não estamos aqui vendendo sonhos; estamos no início de um processo de uma luta coletiva”, completou Portela.
A ministra Simone Tebet já solicitou ao Banco do Brasil um estudo de impacto sobre as dívidas dos produtores, que envolve não apenas dívidas em moeda nacional, mas também compromissos em dólar, iene, além de financiamentos de maquinário. Esse levantamento é essencial para garantir que a proposta de alongamento seja viável e atenda a todas as nuances da realidade dos produtores rurais.
Portela reforçou que, enquanto as instituições financeiras, revendas e até o governo obtiveram lucros nos últimos anos, os produtores seguem endividados e, em muitos casos, precisam se desfazer de seus patrimônios para manter a atividade.
“Nesses últimos 3 anos, todo mundo ganhou. Banco ganhou, Governo ganhou, revenda ganhou, mas só o produtor está endividado e tendo que se desfazer do seu patrimônio conquistado com tanto suor para poder continuar na atividade, gerando riquezas para o Estado, emprego para as pessoas”, concluiu.
A reunião em Maracaju é apenas o começo de uma mobilização mais ampla, que promete ganhar força nos próximos meses e envolver cada vez mais municípios de Mato Grosso do Sul. A expectativa é que, após o período eleitoral, as negociações avancem em Brasília, com a apresentação formal da proposta ao Governo Federal.
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